segunda-feira, agosto 23

Sobre as naturalizações...

Respondendo ao repto lançado no blog Livre Indirecto”, proponho-me aqui a comentar o tema das naturalizações.
É sem dúvida um tema polémico! Divide, como ficou provado aquando da situação de Deco, a opinião pública portuguesa!

O que primeiro gostaria de referir é que não é possível estar ou não contra as naturalizações...
Está definido claramente na Lei da Cidadania quais os critérios para alguém ser considerado português... Se Deco, Obikwelu ou Derlei satisfazem os requisitos têm direito a ser considerados portugueses... A partir daí prevalece o critério desportivo, pois todos se tornam seleccionáveis para defender as cores nacionais...

Aqui sim poderão começar as divergências!
À situação de Obikwelu não existem grandes contestações (se calhar por todo o sucesso que tem alcançado), e de facto não têm que existir! Foi um atleta completamente formado em Portugal, descoberto para a modalidade no nosso país, que lhe deu condições para se desenvolver (Parabéns ao Belenenses e depois ao Sporting!) e para fazer não só o atleta como o homem que é hoje!
Quanto à selecção de futebol as coisas complicam-se! Aqui, depois de se aceitar o caso de Deco (o que acho bem pois tinha todo o direito de ser convocado pelas razões que enunciei acima) abriu-se uma porta. Agora o critério tem de ser completamente desportivo, da responsabilidade de Scolari.
Aquilo que friamente deve ser analisado é a capacidade futebolística de Derlei (neste caso, e futuramente de outros casos). Se por um lado Deco, no meu entender, veio preencher um vazio na selecção, acrescentando uma dose de qualidade acima da média, já no caso de Derlei a situação é um pouco diferente. Para jogar à esquerda confesso preferir ver crescer Cristiano Ronaldo (embora admire muito Derlei, vibre muito com as suas exibições e o ache um jogador fantástico, acima da média). Já para o centro do ataque poderia constituir uma alternativa viável, tendo em conta o problema clássico do nosso futebol neste sector.

No entanto, aceito quem põe questões quanto à proliferação destes casos na nossa Selecção. De facto, jogar pela Selecção Nacional é (ou deveria ser) envergar ao peito um conjunto de valores, uma história de longos séculos, uma marca cultural, o sentido de Pátria.
Contudo, mesmo com atletas nascidos efectivamente no nosso país, esses valores estão cada vez mais a perder-se.
Senão repare-se: quem sentirá mais o país, um atleta que mesmo não sendo português de origem veio para Portugal cedo, cresceu aqui, formou-se como atleta, como homem, criou raízes, família, ou alguém que mesmo nascido em Portugal, saiu do país muito cedo, fez o processo inverso ao referido anteriormente? Alguém que jogou, por exemplo, futebol em Portugal até aos 18 ou 19 anos e emigrou posteriormente, passando 7, 8, 9 ou 10 anos fora do país, ou alguém que recebe quando recebe prémios prefere agradecer numa outra língua que não a sua (esta toda a gente sabe de quem se trata, mas a verdade é que me ficou atravessada até hoje)?

Aquilo que quero dizer é que, como disse Madaíl, vivemos num mundo de globalização e temos que procurar adaptar-nos ao futuro, e talvez o futuro passe um pouco por aí.
Se estas são as regras do jogo, se há outras Selecções que as utilizam (a França é dos maiores exemplos disso, mas há outras como a Itália e a própria Alemanha) porque não utilizá-las também?

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Filipe Queirós @ 19:10